Grupo Teatral Quarteto Fatástico 
Criar uma Loja Virtual Grátis
Lave-se! (Teatro) Engraçadas!
Lave-se! (Teatro) Engraçadas!

Pra fazer teatro tem que saber passar roupa

1
Juliene Codognotto · São Paulo, SP
10/4/2007 · 115 · 17
 

- Um oferecimento dos sucos Tampico

Dia 1º de abril (me escuso de dizer que não é mentira e fazer essa piadinha medíocre, ok?). 21 horas e 17 minutos. Centro Cultural São Paulo vaziozinho. No porão, está terminando a peça Chapa Quente, parte da IV Mostra do Cemitério de Automóveis, que comemora 25 anos do grupo.

O diademense (sim! Diademense... É feio, mas é assim que se chama quem nasce em Diadema) Régis Santos, 42 imperceptíveis anos, finalmente aparece, trazendo seu sorrisão e muito assunto pra essa entrevista.

Cenotécnico do Cemitério há quase seis anos, ele também faz muitas outras coisas (muitas mesmo!) relacionadas à arte. Multimídia e multiuso, é daquelas pessoas que não param quietas. Em todos os sentidos.

Formou-se em artes plásticas na Universidade do Porto, estudou alemão e inglês, fez curso de fotografia pra cinema, iluminação e tentou fazer decoração na Panamericana. "Não terminei porque ficou muito caro." Atualmente, realiza ainda uma videobiografia de iluminadores, que deve terminar até o final deste ano.

Não acabou. Régis é, ainda, 'cidadão do mundo'. Portugal, Espanha, Itália, Long Beach... (também conhecida por Praia Grande, 'lugar' da mãe dele). E o próximo destino deverá ser a Alemanha, onde, a partir de novembro, ele pretende estudar iluminação, com a ajuda de uma bolsa de estudos concedida pelo Instituto Goethe, por meio da Unesco.

Abaixo, você confere uma entrevista regada a Tampico, no pior lugar possível para qualquer gravador (especialmente para o meu pequenino MP3): um bar com direito a violão e batuquezinho. O que se pode aproveitar disso tudo são as opiniões e idéias de um falante-hiperativo-sorridente, profundo conhecedor da praça Roosevelt e seus mistérios, que também é chamado pela doce alcunha de Dona Odete.

Como surgiu o Dona Odete?

A Fernanda disse: "Régis, dá uma força pro Mário, passa essa calça aí pro Mário". A partir daí, o Mário falou: "Ô, dona Odete" e eu falei "Pô, Mário, essa calça aí tá muito amassada!". E ele: "Ô, Dona Odete, pega o ferro aí!" (risos). Aí acabou surgindo o Dona Odete. Aí ficou. Foi no camarim do Satyros, na peça Homens, Santos e Desertores. Foi antes da gente ir pra Curitiba.

Como você define cenotécnica?
É um tipo de técnico que trabalha com cenário. Antigamente, tinha carpinteiro, uma pessoa que montava o cenário com madeira, mas o marceneiro, às vezes, não faz tão bem, porque não conhece, não sabe a linguagem do teatro, não sabe se vai usar palco italiano, se vai usar teatro de arena... Precisa conhecer o que vai rolar dentro do teatro. O mundo é questão de linguagem. Carpintaria e marcenaria é muito importante, mas se você não conhece essa linguagem de teatro, você acaba fazendo um cenário que não dá certo no próprio palco. O cenotécnico tem essa visão, pensa no todo, no conjunto, em como ele vai alterar o espetáculo. Existe essa separação. O cenógrafo já tem uma visão mais funcional. Hoje em dia, tem poucos cenotécnicos bons, tinha o João Quirino, que faleceu, tinha o Espanhol, que pra história do teatro foi muito importante... Hoje, o técnico de som, o iluminador ganhou 'know how', já tem um prêmio Shell pra ele, isso faz poucos anos, mas o cenotécnico não, não existe nada que dê crédito pra ele, ele só sai no programa. No Brasil é engraçado que não existe um curso técnico. Na Europa, na Itália, em outros lugares onde eu passei, já existe. E o que acontece? Cenotécnico no Brasil tá sumindo, o Espanhol, o Quirino... tá sumindo. Aí pagam 10, 20 mil reais pra uma empresa fazer, mas na última hora liga pro seu Joaquim... O cenotécnico brasileiro acaba consertando o que outra empresa foi contratada pra fazer.

E o seu Joaquim é chamado pra ganhar muito menos que 20 mil?

Muito menos. Vai ganhar uma diária de 50, 60, 70 reais.... O cenotécnico não tem categoria que protege. Eu acho que o cenotécnico ganha uma média de 700 a 800 reais. Ele é voltado para um grupo que tem fomento, patrocínio. Grupo que tá começando não tem cenotécnico, porque não tem dinheiro pra bancar. Grupos como o da ECA, o da Célia Helena, acabam confeccionando o próprio material.

Há quanto tempo você trabalha com teatro?
Cinco... vai pra seis anos seis anos.

O que você fazia antes?
Eu era policial da polícia civil de São Paulo, era investigador.

Como foi essa mudança?
Me formei em Artes Plásticas em Portugal, na Universidade do Porto. Quando voltei pro Brasil, tinha muito desemprego e meu pai era pedreiro de obra. Ele me ensinou a trabalhar com pintura e textura. Aí peguei um prédio de sete andares, perto do Mário Bortolotto, na rua São Domingos, e acabei reformando tudo sozinho, desde porta, pintura, tudo. Aí, o Mario foi alugar um espaço lá. Eu já conhecia ele do teatro. Ele me reconheceu e falou pra mim assim: 'poxa, você gostaria de trabalhar comigo na Mostra?'. Foi a segunda mostra de 2002. A partir daí, tô com o Mário até hoje, mas já trabalhei com os Parlapatões, já fiz alguns trabalhos fora do Cemitério...

É muito diferente?É diferente porque quando você trabalha com um grupo você tem autonomia. Quando você é cenotécnico, você tem que viajar na viagem do diretor ou do cenógrafo ou consertar coisas que já vêm quebradas e te ligam na última hora pra corrigir. É também uma relação de confiança. Aí as pessoas sabem: 'aquele cara é bom!'. O seu Joaquim, o Quirino. Esses, sim, tinham 'know how'. Eu mesmo, como fico me metamorfoseando direto... fiz curso de iluminação, agora estou fazendo uma vieobiografia de iluminador, talvez fique pronta até o final do ano ou janeiro.

Mas é melhor trabalhar vinculado a um grupo do que com pessoas que você não conhecia antes?É importante você não só trabalhar para um grupo, mas conhecer a linguagem de outros grupos, não ficar preso só no underground, por exemplo, tem que conhecer outras coisas, tem que estudar, tem que ler também. Hoje muitos profissionais da área não lêem muito, porque é um serviço que muitos acham desqualificado. Chama cenotécnico, não cenógrafo. É um serviço desvalorizado. Só que as pessoas precisam entender que isso é importante, que precisa ler, precisa estudar. Eu fui estudar luz pra entender como a textura ficava na luz dentro do cenário, dentro de cada pano. É um conjunto de várias partes. Eu fui montar luz com a Lena Roque, A Disputa, fui montar luz do Tenesse Willians, com a Bernardete (ela faz As Domésticas), chamava-se O Auto da Fé. Como eu já conhecia a linguagem, fica muito mais fácil. Então isso te ajuda. Quando você trabalha com o Mário Bortolotto, com a Lena, com os Parlapatões, você vai descobrindo que cada um tem uma linguagem e começa a respeitar o espaço como um todo. Quando sai da faculdade, qualquer aluno de arte é muito moldado com os professores, não aceita nada, depois de 5 anos que ele fica bom. Igual cozinheira que fica boa depois dos 30. Tem que amadurecer, por isso é importante conhecer outros grupos.

Você nunca se meteu numa roubada fazendo isso?É uma coisa de identidade. Quando você tem uma identidade própria, você não se perde. Em tudo o que você vai fazer na vida, você tem que ter sua identidade, você tem que saber escolher. Santo Agostinho já dizia: 'você tem o livre-arbítrio'. A partir do momento que você tem o livre arbítrio, você tem a escolha, é uma questão de evolução. Quando você está aberto a ler novos livros, são novos horizontes, um livro pode te transformar. Um grupo de teatro também pode te moldar, te mostrar novos caminhos. Não que você vá perder a sua estrada! A estrada é sua, você não sabe onde ela vai chegar...

Mas você já encontrou algum espetáculo muito doido?

Já, já peguei um espetáculo. Teve uma pessoa que mandou colocar um monte de luz, montei tudo, um monte de luz em tudo quanto é lugar. Era um porão, lembro como se fosse hoje... (É antiético citar nome, né?) Aí, o público entrou e começou a sair. Saía público, entrava público e não terminava a peça que tinha uma hora e 15, uma hora e 20. Depois que terminou, tinha um que não tinha ido embora porque tinha dormido e era amigo. Aí ela virou pra mim e falou assim: 'você acha que precisa de mais luz?' Às vezes falta direção, bom senso. Mas quando você trabalha com as pessoas... o diretor também viaja no cenário, tem que acompanhar a viagem do cara, não posso entrar na minha viagem, eu só passo dar opção, a melhor forma de fazer. Eu ajudo a confeccionar o trabalho, ajudo a pregar o trabalho. Cenotécnico não é nada mais que um marceneiro pra teatro. Entendeu? Só mudou uma linguagem, mas é marceneiro de teatro.

Tem muita diferença nas montagens pra teatro e pra cinema? Cinema dá mais trampo?

O problema é linguagem. Você tem que conhecer linguagem no cinema. Eu já conhecia porque já tinha estudado fotografia, iluminação de cinema. Meu professor era o Anselmo Duprat, que já faleceu. Era meu professor de iluminação de cinema e eletricista também. Eu ia fazer Paixão Perdida, do Walter Curi, que tinha o Fagundes no papel principal. Mas eu era muito novo. Os caras iam pro Japão filmar. E não deu certo, eu não tava preparado. Até porque eu tinha uma filha.

Quantos anos tem sua filha?
Hoje ela tem vinte e cinco anos e mora no Japão.

De quem está em cartaz, hoje, tem alguém que seja referência?
Acho que o Adubo, de Brasília, é muito bom. Estão em cartaz agora no CCSP, é de Brasília. Eles dão um show de espetáculo, de cenário, de tudo. As pessoas deveriam conhecer o trabalho, ter uma noção. O cenotécnico muitas vezes é um cara braçal, termina o horário dele e acaba indo embora. Não toma cerveja, toma Tampico. (risos) Muitos acabam não vendo vários espetáculos pra conhecer. Porque não existe curso preparatório, o cara aprende na raça. Ele não é um iluminador, que já existe curso. A escola de iluminação mesmo é nova, não sei se tem oito anos no Brasil. E fotografia de cinema não é nada mais que luz. Não existia aqui no Brasil. A gente tá mudando, tá crescendo, as pessoas estão se profissionalizando. Isso é muito bom, o Brasil está aberto pra isso. Mas o Senac e qualquer outro lugar, não ensina cenotécnica. Se um dia você ver que tem um curso de cenotécnico, me avisa que eu quero fazer. (risos)

De um tempo pra cá, vimos relatos nos blogs (Mário e Fernanda) de que tá cada vez mais complicado montar as coisas da mostra, que tem bastantes dificuldades. Como você vê histórico do grupo neste tempo que você está por aí?
Eu acho que no teatro a gente tem perdido muito dinheiro. A gente fez uma mostra agora, de 25 anos do grupo, o grupo já tem uma história, a gente tá construindo uma história. Acontece o seguinte, não vamos falar de grupos que ganham ou não ganham fomento, nem do critério de como é selecionado. A gente, por exemplo, entrou com a lei pra ganhar fomento, sem fomento á difícil manter o grupo. Às vezes, em época política, saem distribuindo grana pra grupo que não precisa, que já tem grana pra se manter e, às vezes, a gente que não tem patrocínio da Petrobras, do Unibanco, acaba perdendo a estrutura pra ter um trabalho melhor. A gente tá bancando a luz, tudo do bolso, da bilheteria. Eu, o Marcelo, o Mário, os atores estamos vindo aí com amor, mas fica difícil trabalhar só com amor. A gente precisa de pão, de tudo... E o porão é alternativo, tudo locado. A gente acaba vindo no sufoco, fazendo a mostra, porque a gente faz teatro por amor. E o que a gente ganha no porão acaba gastando no bar. Eu não gasto tanto porque eu tomo Tampico.

Numa das peças da mostra houve um problema com o som. Já aconteceu com você antes?

Tudo, qualquer teatro, todo espetáculo é sujeito a isso. Você, como jornalista, tá sujeito a esquecer o gravador ligado, desligado, a acabar pilha, a não ter mais fita... Eu aprendi que sempre tem que levar umas coisas a mais. Fio a mais, extensão a mais... tudo a mais! A gente tá sujeito a queimar uma lâmpada, sujeito ao som falhar e tudo aquilo é um jogo... É um momento em que todo mundo entra em desespero, em ansiedade, porque o espetáculo depende de todo mundo e todos são papéis principais. Se um for mal, não der a fala, não pegar o tempo, atrapalha o tempo do outro. Vai rolar, você vai ficar muito mal. Você pode resolver, como nós resolvemos, trouxemos o DVD e deu certo, o espetáculo continuou, porque a gente acredita no nosso trabalho, então você tem que acreditar. Com você também pode dar errado, você pode estar atrasado e furar o pneu do carro antes de chegar no lugar.

Tem coisas que dão errado e depois fica engraçado?

Pra quem tá fora pode ficar engraçado, mas pra quem tá atrás é decepção. Todo mundo quer que dê certo, a gente ensaiou pra dar certo, nunca é improviso, aqui não é o Sai de Baixo, é teatro. Não é teatro do nada, que são textos abertos. Não é teatro experimental, a gente não tá experimentando, a gente tá fazendo teatro. Nós somos contemporâneos, não tamo fazendo teatro alternativo, não é conceitual, tem que dar certo porque a gente ensaiou aquilo. É como se você tivesse ensaiado uma partitura de uma música e não desse certo. Então, todo mundo fica apreensivo, sofre e vai pra casa mal, ninguém sai inteiro, porque todo mundo quer ver seu trabalho bem feito.

Os problemas técnicos têm relação com a grana?
Sempre tá sujeito a queimar alguma coisa, é coisa técnica, tá sujeito ao CD não ler. A grana ajuda, mas tem coisa que pode rolar... São falhas... o ator, tudo bem, pode beber, não estar legal, mas falha técnica não pode rolar. Se o programa não abrir, você pode estar com um computador de última geração e não abre. É muito relativo! Não dá pra falar que grana resolve muito. A gente já fez teatro sem grana mesmo. Quando a gente entra pro teatro, a gente sabe que não dá grana. Não dá dinheiro! Teatro não dá dinheiro! Se quiser, vai fazer novela, vai fazer comercial de TV. Eu sabia que não ia ganhar dinheiro, sabia que não ia ser sustentado com teatro. A maioria dos atores que eu conheço ou vai fazer peça infantil quando sai da ECA, do Célia Helena, ou vai dar aula de inglês, de espanhol, você entendeu? Ele cai numa realidade. São milhares se formando a cada ano. Artistas plásticos e cênicos se formando, pegando DRT, que é aquela febre do DRT, e quantos grupos tem no mercado aqui que a gente conhece? São poucos, gente! Cadê aquele pessoal que se forma cada ano na faculdade? Onde tá o pessoal da ECA, Célia Helena? Pega a São Judas, a Escola Paulista... Pega uma média de 80 alunos por ano... cadê? Cadê eles? Onde eles estão? É um mercado em que você tem que competir, você é um produto e não vai ganhar grana. Pode fazer um freela, uma novela, uma puta propaganda, tem muita gente que faz, mas aí é uma escolha. Ou então você vai pra Europa, faz um curso, fica bom e vai trabalhar no departamento cultural, ser chefe de cultura... aí acabou! Várias pessoas que trabalhavam e eram muito boas, fizeram isso. O Celso Frateschi, o cara foi ser alguma coisa aí do teatro e não mudou muita coisa, não, porque é uma forma de ganhar dinheiro. Os caras estão lá então se engessam porque é o trabalho deles. Não é dinheiro! Fazer bom teatro não precisa de dinheiro. O dinheiro ajudaria, cê entendeu? Mas o bom teatro você faz com amor, com raça. O que precisa é de uma lei que mude isso, pra que as empresas entrem com abatimento de imposto, pra ficar mais acessível e não ser só iniciativa pública, mas privada também. Isso que tem que acontecer. Tem muitos grupos que falta grana. Tem que mudar essa referência de lei. E não ficar só batendo na mesma tecla: falta grana, grana, grana. Pô, vamos sentar todo mundo e tentar fazer algo mudar, senão ninguém vai fazer mais teatro! Claro que ninguém vai deixar de fazer teatro por causa de dinheiro, o teatro vai continuar...

O seu sustento é o teatro?É o teatro. Eu dou aula também, dou aula de artes plásticas e vou começar a dar aula de literatura em um curso comunitário que se chama Ducafo, que trabalha com pessoas carentes e negras. Eu não protejo esse lance de negritude ou de branquitude, porque minha filha é praticamente nissei, então eu não protejo isso, porque também eu sou descendente de negro com branco. Tô lá, ganho dinheiro lá, monto cenário pro Brincando no Quintal, a peça de lá, tô lá, na quinta-feira. Estou com o pessoal do Bonassi, que é O Menino Preso na Fotografia, ganhando uma grana. Então, eu vivo de teatro mais outras coisas. Mas tem gente que só vive disso. Minha proposta era viver só de teatro. Se eu pudesse viver de teatro, ter mais tempo pra teatro... Mas eu não tenho tempo, então tenho que me virar.

Como é o relacionamento entre vocês no Cemitério?

A gente é uma família. A gente é uma família como qualquer outra. A gente tem uma coisa muito grande, é uma coisa de estrela, que a maioria das pessoas que trabalham com a gente tem identificação. Eu saí de casa muito cedo, não tive uma família legal, minha família sempre foi o mundo, por vontade própria. O Mário também tem essa identificação, se pegar o blog, algumas peças. O grupo realmente tem muito a ver. Tem o Wiltão (que não sei se está mais, mas é do grupo), o Marcelo, o Gabriel Pinheiro, a Fernanda D'Umbra, o Mário e eu. A gente vem junto trabalhando, se tiver que segurar a barra, segura, ganhar dinheiro...

Se tiver que passar roupa?
Vai passar, a Dona Odete tá lá! Isso é o grupo, porque quando você veste uma camisa, você tem que acreditar. Eu acredito no que eu tô fazendo, acredito no que é certo.

Dentro do grupo, normalmente, com quem você pega as indicações?
Com o Mário Bortolotto. Ele já traz umas coisas criadas, coisas que ele já tem na cabeça o que vai fazer. Há pouco tempo, eu entrei profundo nas luzes. Antes era só cenotécnico, mas como não tem técnico no porão, o Centro Cultural não dá técnico, eu tô aproveitando e tô aprendendo um pouco mais, tá sendo de muito valor. Tô crescendo muito com isso. Deveria acontecer mais vezes. No Mário, a gente não trabalha com muito cenário. O cenário é falado. É Shakespeareano. Trabalhamos mais com luz. O próprio cenário diz. É falado: 'aqui é minha casa'. Como nosso trabalho é underground, acaba tendo pouco cenário. Então o ator tem que ser muito bom pra mostrar que ele tá ali. Atuação e texto. Tem que ser muito bom pra mostrar que ali é uma casa, uma floresta...

Quem é a maior referência pra você?
Na cenotécnica? O Joaquim, o João Quirino, o Espanhol são os maiores. O Quirino, infelizmente, já faleceu, trabalhava aqui no Centro Cultural, mas um cara que pode te dar um show de bola é o seu Joaquim, que se encontra vivo e trabalha no Cultura Artística. Ele é cenotécnico! Eu sou aprendiz, eu tô tentando... (risos)

Fale um pouco da sua empreitada como ator.
Eu acho que tudo que você faz na vida, você faz muito, mas tem uma hora que vai ter que fazer uma coisa bem feita. Não dá pra ser muitas coisas ao mesmo tempo. Uma hora, vai chegar o momento, pode ser qualquer hora, não sei quando, que eu vou ter que me aperfeiçoar em alguma coisa e vou ter que dar o melhor de mim. Ainda estou na experimentação, mas quando chegar o momento certo, vou ser melhor naquilo que eu me propor a fazer. Isso é meu conceito. Até então sou apenas um... aprendiz...

Rapidinha

Um teatro: Satyros 1
Uma peça: Inocência
Um dramaturgo: Mário Bortolotto
Um (a) ator (atriz): Apesar de tudo, gosto da Fernanda Dumbra, ela trabalha bem
Um desejo: Tentar ser feliz
Um (a) crítico (a): Beth Neves
Uma cor de calcinha: Vermelha
Um inimigo: não tenho
Grelhado ou Assado? Assado
Sundown ou Cenoura & Bronze? Cenoura & Bronze
Com fomento ou sem fomento? Com fomento - mas, sem ou com, a gente acaba fazendo.
Quem ou o quê não é referência pra ninguém? Fudeu... porque é muito pesado, né? A gente não deve fazer isso... Eu acredito que cada pessoa, cada linguagem vai ter discípulos e pessoas que respeitam ela como ela é. Eu odeio teatro experimental, cara. Odeio teatro experimental, mas eu tenho amigos que gostam... Todo mundo tem um processo de gostar ou não gostar um dia. Eu não gosto hoje, mas daqui vinte anos eu leio uma matéria e falo 'pô, eu amo teatro experimental', aí me falam: 'há vinte anos você escreveu isso'. Então é uma coisa que eu deixo aberta. Eu nunca sou, eu estou hoje. Eu não vou jogar pedra em nada, deixo sempre aberto, respeito qualquer pessoa. Tem pessoas que gostam de criticar... eu não...


Rating: 2.7/5 (88 votos)




ONLINE
2





Partilhe esta Página